Saudade: News from and for the Brazilian community/Notícias de e para a comunidade brasileira

Brazilian faces: Rodrigo Silva Honorato

0
Rodrigo Silva Honorato, center, the MVRHS JV soccer coach. — Courtesy Rodrigo Silva Honorato

A tradução deste artigo se encontra no final da versão em inglês 

About two years ago I got a phone call from my former news editor, Nelson Sigelman, early in the morning regarding a fire in Edgartown. The fire had destroyed a house where two Brazilian families lived, and he needed me to talk to those families. The experience was heart-wrenching because I felt so much like an intruder; these individuals had just gone through probably one of the most devastating experiences of their lives, and I didn’t know what to say or how to offer help.

It was then that I met Rodrigo Silva Honorato, who lived with his parents and was one of those affected by the fire. Luckily no one was hurt in the fire, but Rodrigo, or Rodriguinho as he is known in the Brazilian community, lost his dog Beamer in the fire. Even during such tragedy, Rodrigo was grateful that nothing worse had happened.

Fast-forward a little over a year; I saw that Rodrigo was the MVRHS JV soccer coach — the first ever Brazilian to hold such position. As part of my ongoing series of Brazilian faces, this month I sat down with Rodrigo in the Brazilian classroom of the high school to catch up on life and his plans for the future.

How has your life as well as your parents’ lives changed since the fire?

Well, I now live by myself and feel like an adult. Not that I didn’t before, it is just that I had some of the comforts you don’t even appreciate the way you should when you live with your parents. I didn’t have to pay all the bills; I contributed to them, but life was more comfortable in that regard. After our house burned, I also had to strengthen my faith in a way that felt right by me. Losing your home in a fire, regardless of where you live, is something you hope you never have to go through, but here on the Island where housing is already scarce, that fear is very imminent.

In case such tragedy happens, that might mean that you may not get to continue to live on Martha’s Vineyard. It was challenging for me to find a place to live, and I know a lot of people; our family has lived on the Island for many years. But the experience propelled my parents to think about buying a house, and they are currently looking at places, whereas before the fire, they were concentrated on staying here the summer and then going to Brazil; that was their old mentality. We now understand the importance of setting firm roots. I am also eternally thankful to my friend Sam Entner, who helped me with a place to live.

How is it to work at the MVRHS?

I went to MVRHS, and a lot has changed since I graduated and for the better. There were Brazilians students, but not as many as now. It wasn’t until my senior year that I started to think about options and maybe college. I ended up going to Dean College for two years, but the entire time I was in school, I felt aimless. I didn’t know what to do, and in that sense, coming home felt important. Back when I was a soccer player in high school, which has always been a passion of mine, I really wanted Esteban Aranzabe, the current varsity coach, to be my coach. I would beg him to train us, but at the time he was already committed to another team. When Esteban offered me the chance to also become a coach, I was honored as well as thrilled to be able to work side by side with a coach I admire so much.

What is your relationship with the Brazilian soccer players?

I am like their older brother in a sense, because of the proximity in age with some of them, and I always tell them to embrace all of the opportunities that are available to them in school. I remind them that regardless of their status in the country, that we need to represent our Brazilian community in a good light. I tell them that there is nothing wrong with the professions that their parents have, which in most cases are housekeeping and carpentry, but that those paths shouldn’t be their only options. A good way to honor all the sacrifices that their parents make so that their kids can have a better life is going after the opportunities not available to their parents. A good player might be offered a four-year scholarship, but if something goes wrong with his body, this player needs to be able to rely on his academic goals too. Grades and how students treat their teachers and peers are very important to me. I want all my players, Brazilians or Americans, to work hard, to apply that discipline and desire to be a good soccer player in other areas of their lives. Coaching these kids has been a blessing, a way to see what it is that I want and am good at, and I want to now become a professional coach. It is a lot of fun. I guess we teach what we need to learn.

Did you get a new dog?

I didn’t, and I don’t know when that will happen. Not a day goes by that I don’t think about Beamer — I am so glad I got to have him like a dog, but I am not ready to commit to another dog yet.

How do you see your life in five years?

A professional coach, having my own business, becoming a professional carpenter. When tragic things happen in your life, it is as if you can’t waste any moment, but it also slows you down, it teaches you how to appreciate people, moments, opportunities. I want to continue to be my best version, to help people in the way others have helped me, to inspire the kids I work with, to live a good life.

Portuguese version – Versão em português

Cerca de dois anos atrás, recebi um telefonema do meu antigo editor de notícias, Nelson Sigelman, no início da manhã sobre um incêndio em Edgartown. O fogo havia destruído uma casa onde viviam duas famílias brasileiras, e ele precisava que eu conversasse com essas famílias. A experiência foi um tanto quanto complexa porque me senti como uma intrusa; esses indivíduos estavam passando por provavelmente uma das experiências mais devastadoras de suas vidas, e eu não sabia o que dizer ou como oferecer ajuda.

Foi então que conheci Rodrigo Silva Honorato, que morava com seus pais e era um dos afetados pelo fogo. Felizmente, ninguém foi ferido no fogo, mas Rodrigo, ou Rodriguinho como ele é conhecido na comunidade brasileira, perdeu seu cachorro Beamer no fogo. Mesmo durante essa tragédia, Rodrigo agradecia que nada mais trágico havia acontecido.

Quase depois de um ano, eu vi que Rodrigo era o novo treinador de futebol JV da Martha’s Vineyard Regional High School, o primeiro brasileiro a ocupar essa posição. Como parte da minha série atual de faces brasileiras da ilha, este mês eu me sentei com Rodrigo na sala de aula de português da MVRHS para falar sobre sua vida após o incêndio e de seus planos para o futuro.

Como a sua vida e a vida dos seus pais mudaram desde o incêndio?
Bem, agora vivo sozinho e me sinto como um adulto. Não que eu não me sentisse como um adulto antes do incêndio, é só que eu tinha alguns dos confortos que nem sequer apreciava do jeito que deveria quando morava com os meus pais. Não precisava pagar todas as contas; eu contribuía, mas a vida era mais confortável nesse quesito. Depois que nossa casa queimou, eu também tive que fortalecer minha fé de uma maneira que me verdadeira para mim. Perder a sua casa em um incêndio, independentemente de onde você mora, é algo que você espera que você nunca tenha que passar, mas aqui na Ilha onde moradia já é escasso, esse medo é muito iminente.
No caso de tal tragédia acontecer, isso pode significar que você não possa continuar a viver em Martha’s Vineyard. Foi um desafio para mim encontrar um lugar para morar, e eu conheço muitas pessoas; nossa família mora na Ilha há muitos anos. Mas a experiência impulsionou meus pais a pensar em comprar uma casa, e eles estão atualmente procurando por casas à venda, enquanto que antes do incêndio, eles estavam concentrados em permanecer aqui no verão e depois ir para o Brasil; essa era sua antiga mentalidade. Agora entendemos a importância de estabelecer nossas raízes. Eu também sou eternamente grato ao meu amigo Sam Entner, que me ajudou com um lugar para morar.

Como é trabalhar na MVRHS?
Eu completei meu ensino médio na MVRHS, e muita coisa mudou desde que me formei e para melhor. Havia estudantes brasileiros, mas não tantos como agora. Não foi até meu último ano do ensino médio que comecei a pensar em opções do que fazer após a formatura e talvez em cursar uma faculdade. Eu acabei indo para o Dean College por dois anos, mas durante todo o tempo que eu estava na faculdade, eu me sentia sem rumo. Eu não sabia o que fazer, e nesse sentido, voltar para casa foi algo importante. Quando eu era um jogador de futebol na MVRHS, o que sempre foi uma paixão minha, queria realmente que Esteban Aranzabe, o treinador do time atual, fosse meu treinador. Gostaria de pedir-lhe que nos treinasse, mas na época ele já estava comprometido com outra equipe. Quando Esteban me ofereceu a chance de me tornar um treinador, fiquei honrado e emocionado por poder trabalhar lado a lado com um treinador que eu admiro tanto.

Como é o seu relacionamento com os jogadores de futebol brasileiros?
Eu sou para eles como seu irmão mais velho de certa forma, devido a proximidade em idade com alguns deles, e sempre digo a eles para abraçarem todas as oportunidades que estão disponíveis para eles na escola. Lembro-lhes que, independentemente do seu status no país, que precisamos representar nossa comunidade brasileira de uma forma positiva. Eu lhes digo que não há nada de errado com as profissões que seus pais têm, que na maioria dos casos são limpeza de casa e carpintaria, mas que esses caminhos não devem ser suas únicas opções. Uma boa maneira de honrar todos os sacrifícios que seus pais fazem para que seus filhos possam ter uma vida melhor é que eles devem aproveitar as oportunidades que não estão disponíveis para seus pais. Um bom jogador pode ser oferecido uma bolsa de estudo de quatro anos para a faculdade, mas se algo negativo acontecer fisicamente com este jogador, este jogador também pode contar com seus objetivos acadêmicos. As notas e a forma como os alunos tratam seus professores e colegas de classe são muito importantes para mim. Eu quero que todos os meus jogadores, brasileiros ou americanos, trabalhem duro, apliquem essa disciplina e desejo de serem bons jogadores de futebol em outras áreas de suas vidas. Treinar esses estudantes tem sido uma benção, uma maneira de ver o que é que eu quero e estou bem, e eu quero me tornar um treinador profissional. É bem divertido. Eu acho que ensinamos o que precisamos aprender.

Você comprou um novo cachorro?
Ainda não, e não sei quando isso acontecerá. Não há um dia que eu não pense no Beamer -Me sinto feliz por ter tido ele como cachorro, mas ainda não estou pronto para me comprometer com outro cachorro.

Como você vê sua vida em cinco anos?

Me vejo como um treinador profissional, com meu próprio negócio, me tornando um carpinteiro profissional. Quando as coisas trágicas acontecem em sua vida, é como se você não pudesse perder nenhum momento, mas também o faz saborear cada instante, te ensina como apreciar as pessoas, os momentos e oportunidades. Quero continuar a ser a minha melhor versão, ajudar as pessoas da forma como os outros me ajudaram, quero inspirar os alunos com as quais trabalho, quero levar e viver uma boa vida.