A tradução deste artigo se encontra no final da versão em inglês
Greeting from somewhere in the sky — I am currently writing this column from a JetBlue airplane en route to Fort Lauderdale, where I will grab my flight to Brazil late Monday night. Did you know that David G. Neeleman, who founded JetBlue, is a Brazilian-American citizen? Of all of the airlines, Jetblue is by far my favorite, and for this trip, I am using JetBlue and its Brazilian flight sister — Azul Brazilian Airlines, also owned by David G. Neeleman.
Since last August, when I received my green card, I have been getting ready for this moment and have talked to many Brazilians on the Island about their own experience with going home for the first time in a long time, especially when you haven’t visited the motherland in years, which is my case. The one thing we all have in common is the dreams, perhaps nightmares, of going home and trying to come back to the United States and being unable to do so. Upon awakening, we hold on to our beds and try to make sure that it was indeed just a dream/nightmare and that we are still in the U.S. I find it remarkable how we all have this experience.
The second thing I found funny is the lists we get from people in Brazil and the requests we get in the U.S from folks asking if we would take gifts to their relatives in Brazil. Despite going to Curitiba, once I am there, I am heading to the nearest post office to send boxes all over Brazil. Most Brazilians don’t trust sending things from U.S. to Brazil because at times their things have gotten stolen or the folks to whom the gifts were for end up paying huge fees to release these gifts from Customs. If you were to open my two huge bags, you would find some peculiar things: Desitin Rapid Relief Cream, Batman Legos, all things Pokemon, ChapStick, bath and body Lotions, NBA official T-shirts, dishwasher soap — yes, you read that right, perfumes, bath towels, iPhone chargers, etc … and the requests were still coming in late Sunday night. Some of the folks I spoke with said that the best thing to do is not to announce that you are going to visit and just appear there. Otherwise, you will always find yourself in the international merchant role.
The most precious gift I will bring is not actually material; there is a 67-year-old Brazilian lady who lives in Lowell, and once she found out that I was going to be staying near the region where her 90-something-year-old father lives, she asked if I’d visit him so that she could see him through Facetime. She said that technology is not her forte but that since she could afford to buy a phone that would allow her to see her father, and that she doesn’t know if she will ever be able to see him again, that she would appreciate the chance for them to see each other’s faces once again.
When I tell these kinds of stories to my American friends (those fortunate enough that they never had to relocate to pursue a better life), they say they find the price too high to pay, and I agree with them, but I understand why as immigrants we make choices that others hopefully never have to. Even if we can’t enjoy a safe and financially abundant life in our home country, we are happy that we then get in a position where we can help our sisters or brothers go to college, and financially support them, because that remained a dream for us. We can pay for 24-hour care for our parents, we can help our parents have the experience of owning their own home, even if on the Island we are always anxious about our living situation.
I believe that most immigrants choose to change their entire lives to make someone else’s life better. Brazilians who remain in Brazil and never had to relocate have no idea of what it’s like to live as an illegal immigrant.
Because of the advancements in technology, we can now continue to feel close and part of our families’ lives, even if physically that possibility remains a dream.
I anticipated that the word “home” would continue to become increasingly complicated, Brazil will feel more foreign to me than the U.S ever did, as does my personal sense of identity. However, I have tremendous gratitude for the opportunity to go back and spend three weeks with family and childhood friends and visit places that are still new to me. My family and friends from Brazil say that I am too Americanized, and when I am in the U.S., I am always aware that I am a foreigner, and many of us feel, whether on-Island or spread across the country, what we are or become is the world we create for ourselves, perhaps a mix of what we appreciate from both our birth and adopted homes.
Portuguese translation – Tradução em português
Saudações de algum lugar no céu – Neste momento, estou escrevendo esta coluna de um avião da companhia aérea JetBlue em rota para Fort Lauderdale, onde pegarei meu vôo para o Brasil no final da noite de segunda-feira. Você sabia que David G. Neeleman, o qual fundou a JetBlue, é cidadão brasileiro-americano? De todas as companhias aéreas, Jetblue é de longe a minha favorita, e para esta viagem, estou usando JetBlue e sua irmã brasileira de voos – Azul Brazilian Airlines, também de David G. Neeleman.
Desde agosto do ano passado, quando recebi meu green card, eu me preparei para esse momento e conversei com muitos brasileiros na ilha sobre suas experiências com a volta para casa pela primeira vez depois de um longo período de tempo, o que é o meu caso. Uma das coisas que todos temos em comum são os sonhos, talvez pesadelos, de ir para o Brasil e tentar voltar para os Estados Unidos e não poder voltar mais. Ao acordar, nos agarramos as nossas camas e tentamos nos certificar de que realmente não passou de um sonho/pesadelo e que ainda estamos nos EUA. Achei interessante como todos nós temos essa experiência.
A segunda coisa que achei engraçada são as listas que recebemos das pessoas no Brasil e os pedidos que recebemos nos EUA perguntando se poderiamos levar presentes para seus parentes no Brasil. Apesar de ir para Curitiba, uma vez que eu chegar lá, eu irei para o correios mais próximo para enviar caixas para todo o Brasil, presentes de amigos da ilha para seus familiares. A maioria dos brasileiros não confiam em enviar coisas dos EUA para o Brasil, porque às vezes suas coisas são roubadas ou as pessoas a quem os presentes eram acabam pagando taxas enormes para liberar esses presentes da Alfândega no Brasil. Se você fosse abrir minhas duas malas gigantescas, você acharia algumas coisas bem peculiares: pomada para assaduras, legos do Batman, todas as coisas Pokemon, protetor labial, um monte de cremes, camiseta oficial da NBA, sabão para máquina de lavar louça, perfumes, toalhas de banho, carregadores de iPhone, etc … e os pedidos ainda estavam chegando no final da noite de domingo. Algumas das pessoas com quem falei disseram que a melhor coisa a fazer é não anunciar que você vai visitar e apenas aparecer lá. Caso contrário, você sempre se encontrará no papel do comerciante internacional.
O presente mais precioso que vou levar não é realmente material; há uma senhora brasileira de 67 anos que mora em Lowell e quando ela descobriu que eu ia ficar perto da região onde seu pai de 90 anos de idade vive, ela perguntou se eu iria visitá-lo para que ela pudesse vê-lo através do Facetime. Ela disse que a tecnologia não é o seu ponto mais forte, porém, uma vez que ela pode comprar um telefone que a permitiria ver seu pai, e que ela não sabia se teria outra oportunidade de vê-lo pessoalmente, que ela apreciaria a oportunidade de ver seu rosto através do Facetime.
Quando conto esses tipos de histórias aos meus amigos americanos (os que tiveram a sorte de nunca terem que se mudar para tentar uma vida melhor), eles dizem que acham o preço alto demais para pagar, e eu concordo com eles, mas entendo porque nós imigrantes fazemos escolhas que outros esperançosamente nunca precisarão fazer. Mesmo que não possamos desfrutar de uma vida segura e financeiramente abundante em nosso país de origem, ficamos felizes por estarmos em uma posição em que podemos ajudar nossas irmãs ou irmãos a ir à faculdade e apoiá-los financeiramente enquanto alcançam seus objetivos, mesmo que este mesmo objetivo permaneça um sonho para nós. Podemos pagar cuidados de 24 horas para nossos pais, podemos ajudar nossos pais a ter a experiência de ter sua própria casa, mesmo que na Ilha estamos sempre preocupados com nossa situação de moradia.
Eu acredito que a maioria dos imigrantes escolhem mudar suas vidas inteiras para melhorar a vida de outras pessoas. Os brasileiros que permanecem no Brasil e nunca tiveram de se mudar não têm idéia do que é viver como imigrante ilegal. Devido aos avanços na tecnologia, agora podemos continuar a sentir-se próximos e parte da vida de nossas famílias, mesmo que fisicamente essa possibilidade permaneça um sonho.
Eu antecipo que a palavra “casa” continuará se tornando cada vez mais complicada para mim, o Brasil será mais estranho do que os Estados Unidos foi quando me mudei, mas assim como a procura pelo o que significa morar e viver duas culturas, o meu senso pessoal de identidade também continuará evoluindo. No entanto, tenho uma tremenda gratidão pela oportunidade de voltar ao Brasil e passar três semanas com familiares e amigos de infância e visitar lugares que ainda são novos para mim. Minha família e amigos do Brasil dizem que estou muito americanizada, e quando estou nos EUA, estou sempre consciente de que sou estrangeira, e muitos de nós nos sentimos, seja na ilha ou espalhados por todo o país, que o que somos ou nos tornamos é o mundo que criamos para nós mesmos, talvez uma mistura do que apreciamos tanto nos países em que nascemos como nos países que adotamos como nossas casas.